O iuan chinês atingiu a mínima em quatro anos nesta quarta-feira (12), recuando pelo segundo dia consecutivo, após autoridades adotarem uma nova desvalorização da moeda, em uma manobra que alimentou temores de uma guerra cambial mundial e acusações de que Pequim está auxiliando injustamente seus exportadores, que vêm enfrentando dificuldades.
A queda na cotação tem sido encarada como uma forma de ajudar as exportações, que se tornariam mais competitivas, em um momento de desaceleração da economia. O Banco Central chinês alega, no entanto, que é parte de uma reforma do sistema cambial, com o objetivo de aproximá-lo do mercado.
O iuan à vista na China caiu para US$ 6,45, nível mais fraco desde agosto de 2011, depois de o banco central fixar o ponto médio diário que coloca como referência a 6,3306, ainda mais fraco do que a desvalorização de terça-feira. Na semana, a moeda chinesa acumula uma desvalorização de 3,5%.
A moeda tinha desempenho pior nos mercados externos, tocando 6,59.
Mercados afetados
A desvalorização do iuane afetou nesta quarta-feira os mercados asiáticos, arrastando as Bolsas de Hong Kong e de Tóquio, que perderam respectivamente 2,38% e 1,58%.
Também afetou o petróleo, que prosseguiu com sua tendência de queda e atingiu o menor valor em seis anos em Nova York.
A Bolsa de Xangai perdeu 1,06% e a de Shenzhen 1,54%, ante expectativas de que a desvalorização gere uma saída dos capitais investidos na China, adicionada às preocupações dos operadores sobre a saúde da economia do país.
O BC, que havia descrito a desvalorização como uma medida não recorrente com fim de tornar o iuan mais reativo às forças do mercado, buscou assegurar aos mercados financeiros nesta quarta-feira que não está embarcando em uma depreciação constante.
“Avaliando a situação econômica doméstica e internacional, atualmente não há base para uma tendência de depreciação sustentada do iuan”, informou o Banco do Povo da China.
Operadores de câmbio disseram mais tarde que bancos estatais estavam vendendo dólares em nome do banco central para manter o iuan em torno de 6,43.
“Aparentemente, o banco central não quer que o iuan fuja do controle”, disse um operador em um banco europeu em Xangai.
Um operador em outro banco europeu disse que a desvalorização inesperada provocou “algum pânico” nos mercados.
“Embora o banco central tenha dado explicações novamente hoje, destacando que o iuan não vai mostrar depreciação sustentada, o mercado está muito nervoso”, disse.
Analistas do BMI reduziram suas projeções para a moeda no fim do ano a 6,83, queda de 10% em relação aos níveis pré-desvalorização.
O iuan perdeu 3,5% na China nos dois últimos dias e cerca de 4,8% nos mercados globais.
PIB chinês
A economia chinesa cresceu 7,4% em 2014, o pior resultado em quase 25 anos, e em 2015 a desaceleração é ainda mais considerável, com um avanço de 7% no primeiro semestre, apesar de o resultado estar dentro das metas do governo.
Os cortes sacudiram as Bolsas e os mercados, gerando um movimento de preocupação entre os operadores, ante o temor de impacto para as economias que têm vínculos estreitos com a China.
As autoridades chinesas mantêm um controle rígido do preço da moeda, mas já fizeram várias promessas de liberalizar o mercado.
Na terça-feira, o governo dos Estados Unidos reagiu com prudência à desvalorização do iuane.
“Apesar de ser muito cedo para avaliar todas as implicações da mudança na taxa de referência do PBC (Banco Central chinês), a China destacou que as mudanças anunciadas nesta terça-feira são uma nova etapa para uma taxa de câmbio mais determinada pelo mercado”, disse um porta-voz do Departamento do Tesouro.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) saudou a “etapa positiva” inaugurada com os anúncios de Pequim sobre uma maior flexibilidade de sua moeda, e afirmou que esta medida não terá “implicações diretas” sobre sua decisão de integrar ou não o iuane às moedas de referência internacional.
Analistas consideram que com o iuane no atual nível, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) pode aguardar para aumentar as taxas de juros, próximas de zero desde o fim de 2008, e inclusive apontam a possibilidade do início de uma guerra cambial, caso outros países busquem proteção.
Até o momento, as autoridades chinesas afirmavam que a cotação da moeda era baseada em informações dos operadores do mercado, mas na terça-feira o Banco Central destacou que vai incorporar ao cálculo indicadores como o fechamento do dia anterior, dados do mercado cambial e as cotações das principais moedas.
A taxa cambial fixada nesta quarta-feira está abaixo do fechamento de segunda-feira, estabelecido em 6,3232 iuanes por dólar.
A SG Global Economics afirma em um relatório que observa “uma tendência para uma desvalorização maior” do iuane, que poderia chegar a 5% nos próximos 12 meses.
No entanto, o Banco Central da China descartou uma tendência generalizada de baixa e afirmou que a cotação do iuane está dentro de parâmetros normais.
Da Reuters