Benjamin Teixeira de Aguiar esguichou sangue pela boca e está convencido de que foi um fenômeno místico. Já teve programa de televisão. Preside um instituto que, vez ou outra, atua como conselheiro na ONU. Benjamin Teixeira de Aguiar é capaz de falar sobre extraterrestres, CPI da Covid, causas LGBTQI+ e MC Kevin na mesma palestra.
Ainda levanta a possibilidade de Lula ser a reencarnação de D.Pedro 2º. Você pode escolher como apresentar devidamente o médium sergipano que vive em LaGrange, no estado de Nova York (EUA). O problema é que as introduções criam a imagem de um personagem tão fragmentado quanto inverossímil. Separadas, estão longe de dar conta de sua complexidade.
Eu nunca ouvira falar de Aguiar, até abrir o Twitter e ver um jornalista contando que tinha recebido, de uma assessora de imprensa, um convite para assistir a uma palestra sobre ETs, CPI e LGBTs. Pedi o contato do palestrante, imaginando que falaria com uma espécie de coach versão churrascaria cafona, daquelas que têm picanha, sushi, yakissoba e pizza de brigadeiro.
Assisti a tal palestra e encontrei algo um pouco diferente. O médium de fato falava sobre todos esses temas, mas sem forçar qualquer tipo de ligação metafísica entre assuntos tão díspares. Em linhas bem gerais, ele falava da existência de ETs como seres superiores, elogiava o trabalho feito da CPI e fazia reflexões sobre os LGBTs e sua própria sexualidade (ele é gay assumido).
À frente de cortinas azuis, em uma bancada que lembra a de um telejornal humilde, Aguiar fala o tempo todo sozinho e responde parcas perguntas enviadas pelo WhatsApp e pelo chat do YouTube. “Você está pertinho de fazer 40 anos, né? Meus parabéns antecipados!”, diz Aguiar, logo no início da conversa. Além de saber a data do meu aniversário, ele cita algumas de minhas reportagens antigas para mostrar que pesquisou a meu respeito.
Órgão consultivo da ONU
“O que fazemos é atender pessoas que estão entre os dois extremos: o do fundamentalismo e o do ateísmo”, diz o médium de 50 anos, ao explicar, em entrevista, a proposta do Instituto Salto Quântico, fundado por ele em Aracaju, com núcleos no estado de Nova York (onde ele vive hoje), São Paulo, Recife e Londres. De acordo com Aguiar, o Salto Quântico promove ações sociais em Aracaju desde 1994 e atua com assistência a gestantes e crianças carentes, aulas de informática e “empoderamento de mulheres”, entre outras atividades.
O médium sempre passou longos períodos nos Estados Unidos e sempre quis morar lá. Acabou se mudando de vez para o país em fevereiro de 2020. “Algumas pessoas são mais agnósticas do que ateias. E hoje elas têm caminhos ótimos. Mindfulness, ioga?”, diz Aguiar sobre as muitas versões modernas da busca por um conhecimento superior. O site do instituto o define como “escola espiritual-cristã de sabedoria e felicidade sem fins lucrativos, criada e presidida, no plano físico, pelo médium, escritor, apresentador de TV e conferencista internacional Benjamin de Aguiar, sob inspiração e supervisão de sua adorável Mestra Espiritual Eugênia”.
O instituto vive de doações e divulga mensagens por meio de textos e palestras de Aguiar, realizadas quatro vezes por semana. Desde agosto de 2018, o Salto Quântico é um órgão consultivo com status especial do ECOSOC, o Conselho Econômico e Social da ONU.
“Nossas participações [na ECOSOC] são voluntárias e se restringem a oferecer pareceres sobre problemas graves”, explica o médium. “Participamos de um fórum global apresentando nossas opiniões e no CSW (Comissão sobre a Situação das Mulheres), onde apresentamos palestras e enviamos conteúdos por escrito para sugerir ideias e provocar debates.” Aguiar é cauteloso ao falar sobre a ECOSOC. Sempre que o menciona, faz questão de ressaltar a condição de órgão consultivo, apenas. Ele refuta qualquer afirmação que dê a entender que o Salto Quântico é parte da ONU. Envia uma série de links com artigos e outros materiais para ilustrar como a parceria se dá.
Aguiar diz que os trabalhos sociais feitos pelo Salto Quântico pesaram na aprovação da entidade, mas ele acredita que seu alcance internacional foi preponderante. “Alcançamos 192 países, em especial por conta da nossa página em inglês”, afirma o médium. O perfil, no caso, é o dele mesmo, mas ele não gosta de personalizar a popularidade do instituto.
Lula é reencarnação?
O médium aperta as pálpebras, franze a testa que se une à vasta calvície, gesticula e modula o tom de voz de acordo com a gravidade, ou leveza, do assunto abordado. No vídeo sobre a possível volta de D.Pedro 2º no corpo do ex-presidente Lula, por exemplo, Aguiar discorre por uma hora e 40 minutos sobre outros assuntos até soltar a “bomba”.
No vídeo publicado em junho, ele olha para a câmera e interpreta um ser superior conversando com o espírito do último imperador do Brasil. “Já que o senhor achou que foi injusto nascer em berço de ouro, agora você vai nascer na miséria. (…) Se o senhor achou que ter muita cultura foi injusto e que a população deveria ela mesma resolver suas questões, o senhor terá que subir ao poder na raça. Vai ter que migrar como exilado da fome para São Paulo. Ao invés de doze idiomas, mal vai falar um. E, já que você não quis passar o poder para a sua filha, agora vai passar para uma mulher [Dilma Rousseff] que também corre o risco de ser deposta, como aconteceu com a Princesa Isabel.”
Como um médium antenado, Aguiar não fala apenas sobre as grandes figuras da história. Ele abre o vídeo sobre a morte de MC Kevin fazendo um aviso: “há pessoas que querem rotular como coincidência fenômenos que, em termos de probabilidade matemática, são praticamente impossíveis de acontecer”.
O fenômeno ao qual Aguiar se refere foi a mensagem que recebeu de Eugênia e compartilhou em sua palestra ao mesmo tempo em que o MC sofria o acidente fatal no Rio de Janeiro. O médium diz que tudo ocorreu antes de a notícia ser divulgada pela imprensa. “Na noite anterior [ao acidente], Eugênia foi muito clara sobre pessoas que se atiram ao abismo, em um desejo inconsciente de cortar aquilo que estavam vivendo.” Aguiar não nega suas qualidades mediúnicas — fazê-lo seria esquizofrenia — mas não gosta de ser considerado um homem com superpoderes. Diz que o instituto tampouco treina pessoas para se tornarem médiuns.
“Funções mediúnicas são perigosas porque ficam na fronteira com o distúrbio mental. Como em todas as áreas, há psicopatas dispostos a explorar a fé alheia.”