Tive uma experiência profissional que me deixou de cara com alguns brasileiros que decidiram empreender e conseguiram vencer desempenhando o próprio negócio. A maioria tinha algo em comum, veio de uma situação financeira de extrema falta de grana. E só tinha dois caminhos a percorrer: dar aquela guinada ou se entregar a uma depressão profunda. Eles optaram por viver e criaram oportunidades.
Foram vários os exemplos. O de uma doméstica que quando casou, montou com o marido uma vidraçaria e anos depois se tornou a mais famosa da cidade; de um desempregado que tinha apenas cem reais no bolso, era tudo o que restava para o mês, e ele comprou alumínio e madeira e passou a produzir e vender na vizinhança rodos mais resistentes. Hoje, vende para supermercados da cidade e tem uma empresa consolidada.
E não parou por aí não. Essas pessoas procuraram capacitação para aprender a gerenciar a empresa e assim lucrar efetivamente e poder ampliar o negócio, gerando mais empregos.
Vi esses exemplos e percebi também o contrário, que existem muitas pessoas que se conformam com o pouco que recebem. Que optaram por viver dentro de uma bolha chamada analfabetismo funcional. Que não querem crescer, melhorar o intelecto. ‘Tá bom do jeito que tá.’ E se sujeitam a empregos públicos, políticos e temporários. Ficam presas até que insinuem mudança partidária ou sejam vistos tomando café na mesma padaria do adversário. Daí, é ‘rua’ mesmo. E aí vem a transformação em um sujeito inconveniente que pede emprego e emprestado pra tentar viver.
O analfabeto funcional para alguns estudiosos não é bem aquele que nunca foi à escola, não sabe ler, escrever. Não é esse não. Ele até sabe. Até ocupa cargos administrativos, mas não está capacitado para exercer a função, porque mal consegue interpretar textos, articular ideias. E acredite, caro leitor, estamos cercados dessa gente. Digo isso, o que pode aparentar preconceito, mas porque muitos têm a oportunidade de mudar essa realidade, mesmo que de forma árdua, mas não querem. Estão atrelados a uma patologia dos tempos modernos chamada ‘preguiça’ que fixa no corpo e na mente e deixa o sujeito congelado para passos importantes rumo à vitória. Pra que vencer, se posso continuar perdedor, ganhando meu salário mínimo e devendo a Deus e o mundo?
Deveríamos ter mais contato com o homem do campo. Mesmo com jeitão matuto, muitos investiram em conhecimento. Deles, de filhos e netos. Percebo que há muita gente fazendo o curso de agronomia, zootecnia, pra tocar as terras da família, pensando em prosperar. E tem dado resultado. Eles ampliaram a área de plantio, investiram em novas culturas e negociam o que produzem com estados de outras regiões. Também conheci um produtor que fez um curso online, em uma universidade de um estado do Nordeste, e melhorou a qualidade do produto beneficiado. Ah, e ele ainda conseguiu o diploma desejado.
Sinto muito, mas não posso aplaudir quem não quer crescer. E não venha me falar que o conhecimento não chega a todo lugar. Chega sim. Há internet pra isso. E quando não há, há bibliotecas públicas. O problema dessa tal preguiça é que muitos nem sequer querem ler. Quando a leitura é o princípio de tudo.
Veja esse exemplo. Ricardo Oliveira, de 11 anos, aprendeu a ler aos seis. Ele é baiano, da cidade de Santanópolis. Todos os dias ele caminha 13 km, em busca de doações de livros. Ricardo já conseguiu mais de cinco mil livros. A ideia do menino é montar uma biblioteca e incentivar mais pessoas a ler. Assisti uma entrevista dele em rede nacional e o menino já entendia de arte contemporânea, de cultura internacional. E mais, ele vem de família humilde, escola pública e é filho de mãe solteira. Quer cenário mais desfavorável?
Caro leitor, não precisamos ir à Bahia para conhecer esses exemplos. Conheço muitos que transformaram a realidade. Muita gente aqui mesmo na Paraíba que tinha tudo pra dar errado, mas que deu certo porque enfiou a cara nos livros. Porque não podemos ser um desses exemplos?
Acredite, não há frustração maior do que aparecer uma boa oportunidade de emprego e você não se firmar por incapacidade. E não se conforme, por favor, se alguém disser que você não é capaz. Mostre o contrário. Quando isso acontecer, você vai estar à frente de milhares. De milhões.
Recomendo que comece a realizar um exercício básico, mas que vai fazer de você um viciado em livros. Leia tudo! De gibi a Oscar Wilde. Mas leia! Isso não é mais uma dica. É quase uma exigência!