Do dia em que Anderson Silva foi flagrado no antidoping até hoje se passaram sete meses. Por todo esse tempo a postura dele nunca mudou. Anderson sempre negou que tenha usado anabolizantes. Nas poucas vezes que falou publicamente, ele negou. Entre amigos, sempre jurou de pés juntos que não tomou Drostanolona e Androstano, os anabólicos encontrados no exame.
Na próxima quinta-feira, Anderson será ouvido pela Comissão Atlética de Nevada na primeira etapa do julgamento por doping. Como este blog informou em maio, ele assumirá que ingeriu anabolizante sem saber o que era. A equipe de defesa de Anderson passou os últimos meses examinando os suplementos alimentares e outras medicações usadas por ele, como também foi informado em primeira mão por este blog. E acharam medicamento contaminado, confirmou uma fonte. Um suplemento para performance sexual que foi produzido num mesmo filtro usado para preparar suplemento com anabolizante.
Em alguns países da Europa, a proporção de suplementos contaminados com esteroides anabolizantes chega a 26%. Nos Estados Unidos aproxima-se de 20%. No Brasil não há levantamentos científicos que revelem esses números, mas também acontece por aqui.
A causa disso é a má fabricação em laboratórios às vezes precários outras vezes mal intencionados, alguns deles de origem chinesa. No caso de Anderson, tinha um especialista que preparava medicamentos para ele. Este blog apurou que esse especialista teria reaproveitado o mesmo filtro usado na fabricação de suplemento com anabolizantes para preparar um suplemento sexual encomendado por Anderson. Tem atleta que usa remédios como viagra ou cialis, que são para disfunção erétil, com intuito de aumentar a circulação sanguínea, reduzir inflamações e, em alguns casos, para diminuir até mesmo a pressão arterial.
Anderson nunca entendeu como o exame no dia 19 de janeiro deu limpo e no dia da luta apontou o uso de anabolizante. Um anterior, no dia 9 de janeiro, também detectou as substâncias proibidas. Tomar cialis ou viagra contaminado seria uma uma explicação sensata na opinião dele, já que não seria “burro”, como Anderson mesmo diz, de usar algo irregular na véspera do combate.
Esse será o trunfo de Anderson para se defender num julgamento que pode condená-lo de nove meses a dois anos de suspensão. Amigos dele apostam em no máximo 12 meses. Anderson tem outras cartas na manga que têm se mostrado inócuas. No dia da luta contra Nick Diaz, 31 de janeiro, ele fez dois exames por laboratórios diferentes. Um deu positivo para anabolizante e o outro negativo. Mas a comissão parece disposta a ignorar isso e levar em conta apenas o resultado positivo.
Quanto ao ansiolítico detectado no exame antidoping, Anderson também tem uma explicação. Pelas regras, ele deveria ter comunicado o uso do medicamento na hora do exame médico, pouco antes da pesagem. Mas Anderson só tomou o ansiolítico horas depois da pesagem, ainda na noite anterior ao combate. Portanto, não teve como comunicar no momento certo.
Se pegar 12 meses de suspensão, Anderson estará apto a lutar em janeiro do ano que vem. Ele jamais deixará o combate contra Diaz ser o ponto final de sua carreira. Quer lutar pelo menos mais duas ou três vezes antes de se aposentar. Michael Bisping poderia ser um bom adversário se não tivesse com luta marcada. Trazer Georges ST Pierre de volta da aposentadoria para uma luta contra Anderson sempre foi de interesse dele, dizem amigos ouvidos pelo blog.
Do O Globo