Entrincheirado na presidência da Câmara, de onde tem acionado sua metralhadora giratória contra vários alvos simultâneos, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem sido aconselhado por aliados a reduzir a frequência dos disparos e também a intensidade. Em conversas reservadas, amigos têm tentado convencê-lo de que a fase de ”Hulk”, na qual sua raiva o tornou grande e forte para enfrentar todos de uma vez, está passando e que, taticamente, é inviável ele continuar descarregando seu arsenal ao mesmo tempo contra o Palácio do Planalto, o procurador-geral Rodrigo Janot, o Tribunal de Contas da União (TCU) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que até há pouco tempo estava ombreado com ele, mas agora decidiu liderar seu próprio exército para um armistício com o governo.
Os aliados de Cunha também estão incomodados com o fato de a Câmara estar ficando com o fardo de portadora de notícias negativas. A aprovação de matérias que aumentam despesas e que têm como objetivo apenas causar o desgaste da presidente Dilma está começando a se virar contra a própria Câmara, avaliam os amigos do peemedebista. E depois que Renan se tornou a encarnação do herói da vez, disposto a salvar a mocinha do tiroteio, a tendência é que, cada vez mais, a Câmara passe a ser vista como causadora de problemas.
Por conta disso, Cunha tem sido orientado a adotar uma pauta com menos bombas. Essas podem até produzir um efeito moral, mas sem potencial para danos maiores. Um dos aliados próximos a Cunha disse que ele já tem dado sinais de que vai tirar o pé do acelerador do carro-bomba. Nesta semana, por exemplo, a Câmara concluiu a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a equiparação dos salários de advogados da União a 90,25% dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas ela não irá a segunda votação. Na semana que vem, deve ser votada a matéria de correção das contas do FGTS, que não interessa ao governo, mas tem apoio da maioria dos partidos. Mas outras minas devem ser destravadas.
Os partidários de Cunha também veem que o clima de impeachment da presidente arrefeceu e, embora o peemedebista ainda tenha esse punhal para sacar contra a mandatária, o palco para o confronto final parou de ser erguido. Pesou nessa desconstrução, segundo interlocutores de Cunha, a pressão de empresários, que avaliam que um impedimento da presidente eleita há menos de um ano traria um péssimo ambiente para os negócios, além de jogar lama na imagem do Brasil no exterior.
O problema de por em prática todas essas sugestões, avaliam os amigos do presidente da Câmara, é apenas um: Cunha ouve todo mundo, mas dá ouvidos a poucos.
Do O Globo