Uma pílula que protege contra o vírus (HIV) pode ser usada com segurança por homens jovens que fazem sexo com homens, de acordo com um novo estudo publicado no “JAMA Pediatrics”.
Em um grupo diversificado de meninos adolescentes com alto risco de infecção pelo HIV, a profilaxia pré-exposição (PrEP) foi bem tolerada, disseram pesquisadores. A pílula, já disponível no Brasil, combina dois outros antirretrovirais: emtricitabina e o tenofovir.
“Espero que o estudo ajude especialistas a se sentirem mais confortáveis para oferecer PrEP a adolescentes”, disse Sybil Hosek, autora principal do estudo, à Reuters.
A pesquisadora espera que os novos dados sejam enviados ao FDA, agência americana equivalente à Anvisa no Brasil. A expectativa é que a pílula seja aprovada para uso em mais pessoas mais jovens, já que hoje ela é aprovada para prevenção do HIV em adultos.
A droga foi aprovada pela FDA em 2012 como a Truvada, que foi comercializada pela Gilead. Os ensaios mostraram que o medicamento reduziu o risco de infecção pelo HIV em mais de 90%, diz a Reuters.
Mas poucas evidências foram coletadas sobre seu uso entre adolescentes e adolescentes gays e bisexuais, que estão entre os que correm maior risco de infecção pelo HIV, segundo a agência.
De acordo com boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 2014, o maior crescimento de casos de AIDS estava entre jovens de 15 a 24 anos. Em oito anos, foram quase 30 mil casos da doença neste grupo da população.
Como foi o estudo que avaliou o Truvada em adolescentes
Para o estudo, pesquisadores inscreveram 78 homens jovens gays e bissexuais, de 15 a 17 anos, de seis cidades dos EUA. Os participantes não tinham HIV no início do estudo, mas estavam em alto risco de uma infecção, informa a Reuters.
Todos os jovens receberam uma sessão de aconselhamento sobre o risco de HIV, além de acesso a doses diárias de PrEP nas próximas 48 semanas. No geral, 47 participantes completaram o estudo.
Somente ocorreram três eventos adversos possivelmente relacionados à PrEP, descobriram os pesquisadores.
“Esse perfil de segurança é importante”, disse Hosek à Reuters. “Não vimos muitas queixas sobre efeitos colaterais, nem efeitos adversos.”
Pesquisadores também não encontraram aumento em comportamento de risco durante o período de estudo.
No entanto, três dos jovens do estudo ainda foram infectados. As amostras de sangue sugerem que eles estavam tomando menos de duas doses de PrEP a cada semana no momento da infecção, diz à Reuters.
Adesão é problema entre adolescentes
A taxa de infecção pelo HIV no estudo em adolescentes foi de 6,4 casos por 100 pessoas por ano, que é cerca de duas vezes maior do que a taxa observada entre os homens de 18 a 22 anos inscritos em um estudo similar, os pesquisadores escrevem em JAMA Pediatrics, publicado na terça-feira (5).
Ela disse à Reuters que a alta taxa de infecção pelo HIV no novo estudo é provavelmente devido à baixa adesão — na semana 48 do estudo, apenas 15% dos participantes apresentaram níveis detectáveis da droga.
A baixa adesão aos medicamentos é um problema comum com os adolescentes, disse Hosek.
Segundo a Reuters, também a pesquisadora Renata Arrington-Sanders escreve em um editorial que acompanha o novo estudo que o sucesso da PrEP entre adolescentes gays e bissexuais exigirá esforço.
“Este trabalho sugere que os adolescentes podem exigir um esforço adicional de orientação do que o recomendado atualmente pelas diretrizes nacionais”, disse.
“Especialistas devem orientar os mais jovens sobre o risco de HIV e apoiar a adesão de medicamentos”, escreve Arrington-Sanders, da Universidade Johns Hopkins em Baltimore.
Hosek concordou, pedindo que os médicos fossem mais conectados aos seus jovens pacientes na PrEP.