“Aqui na academia ele era uma pessoa excelente, maravilhosa, altamente amigo, comunicativo, sorridente”. É desta forma que o ex-lutador e treinador de boxe Muhammad Al Mesquita descreve Antônio Andrade dos Santos Júnior, que foi preso na quinta-feira (21) em Cabedelo, na Grande João Pessoa, como um dos dez suspeitos de ligação com o grupo terrorista Estado Islâmico, durante a Operação Hashtag, realizada pela Polícia Federal. Apesar do perfil, há cerca de três anos o jovem foi afastado da academia, onde há uma sala de oração, por conta de uma leitura do Islã considerada inadequada pelo treinador.
Segundo Al Mesquita, que é dono de uma academia de boxe em João Pessoa, Antônio Andrade procurou o estabelecimento inicialmente para treinar o esporte. “Ele veio para cá fazer esporte. Aqui nós tratamos o esporte como a fé, aquele que nos procurar a gente apoia”, explicou o treinador.
O suspeito era batizado cristão e passou a conhecer o islã durante os treinos, se revertendo à religião no período em que praticava no local. Ele passou a adotar o nome de Ahmed Al-Falluji e, entre um treino e outro, também realizava orações na mussala, uma sala de orações que existe na academia.
O treinador explica que após cerca de um ano de treino e de religião, Ahmed passou a apresentar sinais de que interpretava o islamismo “da forma dele”. “E tem que ser da forma que está escrito e em cima de meditação. Você pode achar que é uma coisa, mas você precisa buscar alguém mais sábio”, explica Al Mesquita.
“Quando ele começou a interpretar desta forma, eu cheguei para ele e falei: ‘do jeito que você está entendendo o Alcorão, não é bom. Eu peço a você que se afaste do meio da gente’”, explica Al Mesquita. Segundo o treinador, há cerca de três anos o suspeito não visitou mais a academia.
Perfil na internet
Na internet, Antônio Andrade parecia manter dois perfis diferentes. De um lado, o Antônio Ahmed, que defendia o extremismo islâmico por meio de um canal no Youtube, um página no Facebook e também pelo site “Por que deixei o cristianismo”, no ar desde 2008. De outro, o Antônio Andrade Silva, pesquisador sobre marketing de guerrilha, tema do Trabalho de Conclusão de Curso em comunicação social por uma faculdade particular paraibana, em 2007. O Antônio Andrade também é fã dos Beatles e mantém um perfil no Soundcloud, um site de compartilhamento de áudios, onde cantava covers do grupo britânico.
Operação antiterrorismo
A operação antiterrorismo aconteceu em todo o país a duas semanas do início da Olimpíada do Rio. Além da Paraíba, as prisões aconteceram no Amazonas, no Ceará, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul, de acordo com a assessoria do Ministério da Justiça.
Foram expedidos 12 mandados de prisão pela 14ª Vara da Justiça Federal do Paraná e os suspeitos ficarão presos temporariamente por 30 dias, podendo ser prorrogado por mais um mês.
Segundo o Ministério da Justiça, a Operação intitulada “Hashtag” encontrou as informações a partir de comentários nas redes sociais e mensagens de texto para “atos preparatórios” para atentados terroristas. “A partir do momento que saíram daquilo que é quase uma apologia ao terrorismo, para atos preparatórios, foi feita prontamente a ação do governo federal”, observou o Ministério da Justiça.
Do G1 Paraíba